O amor

“Não há pessoas interessantes”, ouvi por aí há uns dias.

É cada vez mais difícil encontrar quem realmente valha o risco ou estamos cada vez mais exigentes? Já não basta aquela primeira troca de olhares nem o primeiro sorriso. Somos todos muito difíceis de conquistar, de difícil entrega, e ainda de mais difícil transparência de sentimentos.

Escrever sobre o amor sim, fica cada vez mais fácil. Porque ele (o amor) é cada vez mais uma batalha, cheia de desafios e de possibilidades.

Andamos às voltas e enchemo-nos de teorias e de certezas. Até um dia, em que um olhar e um sorriso desmancha isso tudo e nos lembramos que somos mais fortes mas é quando chega a hora de sentir tudo. 

Empurrar

Caminha sempre em direcção ao que mais fores tu. E se não és tu no reflexo, muda tudo.

Há na coragem das maiores mudanças uma força que traz tudo o que precisamos e mais ainda, e simplesmente acontece o que era preciso.


O universo responde à coragem, sempre, de alguma forma. E tu respondes à força que só descobres que tens depois de a teres aplicado em tudo o que te empurra os ombros para baixo. 

Nova pele

Há dores que vêm com um fim. Como uma missão. Tem doer, para sarar e renascer depois de outra forma.

Vais sentir-te queimar, e tudo te vai doer. E tudo vai ser insuportável, e nada vai aliviar. Vais ter uma constante vontade de fugir, mas todos os sítios vão ser desconfortáveis. Mas garanto-te uma coisa: nos pequenos momentos em que outras coisas te obrigarem a desviar o pensamento, vai acontecer.

Quando conseguires dormir profundamente, e de cada vez que terminares de limpar as lágrimas, vai começar a nascer uma nova pele.


E vai existir uma manhã em que te vais esquecer de chorar. E vai existir uma noite em que te vais esquecer que é difícil adormecer. Eventualmente, vai existir um momento em que te vais aperceber de que os dias passaram e a vida continuou mesmo.

Dispensavas certas desilusões, certas perdas. Mas todas elas fazem parte de todos os recomeços. E em cada recomeço, tens por perto quem quer realmente ser presença, quem realmente quer um lugar no teu caminho. 

Para quem passa

Não quero que tenham interesse neste canto pelas coisas banais. Não quero quem quer ler sobre os dias de sol, sobre o estado do país ou sobre um filme interessante.

Quero franqueza. Aquela franqueza dura dos dias em que as palavras saem do mais fundo do que somos. Quero o efeito dos sorrisos e quero o impacto do que faz doer. Quero o maravilhoso das pessoas mas quero também mostrar quando o ruim delas fere.

Quero que saibam que escrevo sempre sobre amor. E que conto sempre finais felizes. Se é amor que tenho ao escrever, se é dos finais felizes que é feita a “serendipidade” das minhas crenças, como poderia escrever sobre outra coisa?

Este amor

Esperei por ti o tempo suficiente para me irritar de tal maneira que acreditei que quando chegasses eu seria tudo menos doçura. Sabes o quanto odeio esperar. E detesto quando nem sei quanto tempo ainda contar nesta espera.

Quem sabe seja isto uma coisa boa, quem sabe esta irritação te atire para fora do teu espaço. Vou zangar-me e tirar-te do sério, como sempre. Vou perder a paciência e tu vais perder a noção, como sempre. Pode ser que desta vez não acabe tudo bem, como sempre.

Chegas sem nada nas mãos, mas com uma saudade no olhar que me faz chegar ali agora mesmo, tal como tu. Afinal não esperei nada e somos toda a doçura que cabe num abraço apertado.

É um amor que rasga a pele e transforma todas as vontades e teorias. É um amor que só pode ser para sempre. Mesmo que não seja. É um amor que entende, que explica, que é maior.

Mas é um amor que preenche mas que não repousa. De que serve amar assim se em vez de tranquilidade é uma constante tempestade? Compensa deixar a bola de neve crescer quando já se sabe que não há espaço para ela passar, que os braços não chegam para a segurar, que está gelada demais para manter as mãos ao lhe tocar?


É um amor sem fim mas sem meta. E esse não pode ser um amor para sempre. 
“Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio”
Oswaldo Montenegro


Escolho fazer por me compensar do tempo que perdi a amar tudo mais que a mim. E escolho ver o que gosto e mudar o que não gosto, para que seja em mim que encontro o melhor.

Que se lixe o tempo que perdi, e que o dê por ganho, na forma como no final de contas me escolho a mim.

Que se lixe o que doeu, que não fiquei mais forte, que não era preciso. Que se danem as lágrimas e o engolir a seco. Para o cacete com as teorias, as esperanças, as estratégias e as histórias. Tudo o que era mais importante esteve demasiado tempo de lado.

É um caminho diário mas chegou a hora de perceber que o verbo "ser" tem em primeiro lugar o "Eu".

Serendipity

“Descobertas afortunadas feitas, aparentemente, por acaso”.

São as coisas boas que encontramos quando não estávamos à procura. E cada um dá-lhe o nome que quiser. E acredita quem quer.

Está-me gravado na pele que as coisas boas são como borboletas. Fogem se tentamos agarrar mas pousam bem perto quando menos esperamos.

Fazemos todos os dias pelo bem, pelas coisas boas. Mas são as inesperadas aquelas que mais nos cativam. Era bom que houvesse algo todos os dias. E quem sabe até haja. É preciso acreditar.